sexta-feira, 30 de setembro de 2011

CONSTRUINDO UM PERSONAGEM DE FICÇÃO

Um dos maiores desafios que se impõem aos aspirantes a roteirista é a construção de personagens sólidos e verossímeis. Para construir um personagem marcante você precisa ir muito além do clássico "nome, idade e profissão". É preciso pensar a psicologia da personagem, ir fundo em sua alma. Ir muito além do maniqueísmo do bem e do mal das peças teatrais estudantis. É preciso lembrar que um ser humano de verdade possui virtudes e defeitos, e que ninguém é totalmente bom, ou totalmente mau.
O filme Cidade de Deus (2002), de José Padilha, é um bom exemplo de personagens emblemáticos e bem construídos. Zé Pequeno (Leandro Firmino) é a maldade em pessoa. Mas, mesmo para um bandido do calibre de Zé Pequeno, há momentos no filme em que ele mostra que é um ser humano, como, por exemplo, quando Buscapé (Alexandre Rodrigues) morre. Zé Pequeno realmente gostava de Buscapé e se importava com ele, mesmo sendo um ser humano cruel e sanguinário. Usando o mesmo filme como exemplo, encontramos um sujeito que parece ser “a bondade em pessoa”. É Mané Galinha (Seu Jorge), um sujeito simples e trabalhador, mas que, para vingar tudo que Zé Pequeno lhe infringiu (humilhação pública, estupro da namorada e morte do irmão), acaba se tornando também um bandido perigoso, capaz de matar sem a menor piedade. São as várias faces de um mesmo ser humano que, dependendo da situação, é capaz de tudo. Não nos esqueçamos que somos, antes de tudo, animais e, quando acuados, agimos por instinto.
Os psicopatas são a única exceção nesse tipo de construção de personalidade. Um psicopata não tem sentimentos, e como tal, é a maldade em pessoa. Ele não necessita de motivos para matar, roubar, manipular... Muitos psicopatas fazem isso por puro prazer. E se agem com bondade, é simplesmente pensando em seu próprio bem. Matar um ser humano simplesmente para construir um casaco de pele humana é algo que eles encaram com naturalidade (O Silêncio dos Inocentes). A série de TV Dexter é um ótimo laboratório para entender o complicado mundo particular de um psicopata.
Divulgação
No entanto, mesmo que o seu personagem seja um psicopata como o Dr. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), por exemplo, ele terá que ter uma personalidade muito bem solidificada. Você terá que basear a sua personalidade em um passado justificável para que um homem como ele tenha as atitudes que ele toma no filme. E isso não é nem um pouco fácil. E é por aí que você começará a construir a personalidade do seu personagem: pelo seu passado, pois, como diria Victor Hugo, o homem é fruto do seu meio. Tudo o que o seu personagem fará, terá que estar embasado em sua personalidade. Se não for assim, ele perde credibilidade e, consequentemente, sua história também.

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