sábado, 16 de novembro de 2013

ROTEIRO - CENAS DE EXPOSIÇÃO

Às vezes, precisamos informar o espectador de algo que não ficará claro ou que não há tempo para explicar em forma de ação dentro do filme. Dessa forma, é preciso expor o assunto como uma explicação incorporada à trama, de forma que o público entenda e ao mesmo aceite o que estamos querendo passar. Não é fácil fazer isso sem se tornar falso ou maçante. Por exemplo, em Matrix somos apresentados a um mundo totalmente novo e cheio de regras próprias. Não há como explicar o que é a matrix se não houver um misto de ação e narrativa. Para isso, Morpheus (Laurence Fishburne), e de certa forma Trinity (Carrie-Anne Moss), encarregam-se de explicar a Neo como funciona a matrix. Essa é a forma que os criadores encontraram de nos apresentar as particularidades daquele mundo, necessário para que também entremos na história.
Em A Origem (Inception, 2010), de Christopher Nolan, o personagem de Leonardo Di Caprio, Don Cobb, é um especialista em invadir a mente das pessoas para roubar segredos ou implantar falsas informações (ou dúvidas). Como não sabemos como isso seria possível, ele é obrigado a “nos explicar”. Para isso, Nolan (que também é o roteirista do filme) encontra uma forma bem aceitável de nos passar essa importante informação. Cobb contrata uma novata, Mal (Marion Cotillard), para ser a projetista de um novo e ambicioso projeto: invadir a mente do herdeiro de um império e implantar uma “semente” de dúvida bem fundo do subconsciente do rapaz. Como Mal é novata no ramo de invadir sonhos, Cobb precisa explicar como tudo funciona para ela. E ao fazê-la conhecedora de tais informações, vitais para o sucesso do projeto, vamos sendo conduzidos pelo mesmo caminho de Mal. Ao final da explicação de Cobb já estamos convencidos de que é possível realizar tal proeza e “compramos o peixe” de Nolan sem reclamar. A exposição foi feita e ficamos satisfeitos com a forma como tudo foi feito.
Um erro comum dos roteiristas de primeira viagem, nesse ponto, é querer explicar demais. Então, imaginando que o espectador não irá entender, ele exagera na dose, e o faz frequentemente por meio de informação duplicada. Se você tiver como mostrar a sua informação, não precisa colocar ninguém explicando aquilo que está sendo mostrado. Seria como se, em A Origem, logo após tudo começar a explodir dentro do sonho de Mal, quando eles estão sentados em um café, Cobb dissesse: “Está vendo? Tudo está explodindo”. Ele não precisa dizer isso porque estamos vendo as coisas explodindo por todos os lados. Ao invés disso, Cobb apenas complementa aquela informação, explicando a Mal porque tudo aquilo está acontecendo.
Alguns professores de roteiro afirmam que a melhor forma de colocar uma exposição em seu roteiro é por meio de uma cena cômica ou um conflito. Eu acredito que você pode usar o artifício que quiser, desde que não deixe a cena maçante e nem subestime a inteligência do espectador.

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