Às vezes, precisamos
informar o espectador de algo que não ficará claro ou que não há tempo para
explicar em forma de ação dentro do filme. Dessa forma, é preciso expor o
assunto como uma explicação incorporada à trama, de forma que o público entenda
e ao mesmo aceite o que estamos querendo passar. Não é fácil fazer isso sem se
tornar falso ou maçante. Por exemplo, em Matrix
somos apresentados a um mundo totalmente novo e cheio de regras próprias. Não
há como explicar o que é a matrix se não houver um misto de ação e narrativa.
Para isso, Morpheus (Laurence Fishburne), e de certa forma Trinity (Carrie-Anne
Moss), encarregam-se de explicar a Neo como funciona a matrix. Essa é a forma
que os criadores encontraram de nos apresentar as particularidades daquele
mundo, necessário para que também entremos na história.
Em A Origem (Inception, 2010), de Christopher Nolan, o personagem de Leonardo Di
Caprio, Don Cobb, é um especialista em invadir a mente das pessoas para roubar
segredos ou implantar falsas informações (ou dúvidas). Como não sabemos como
isso seria possível, ele é obrigado a “nos explicar”. Para isso, Nolan (que
também é o roteirista do filme) encontra uma forma bem aceitável de nos passar
essa importante informação. Cobb contrata uma novata, Mal (Marion Cotillard),
para ser a projetista de um novo e ambicioso projeto: invadir a mente do
herdeiro de um império e implantar uma “semente” de dúvida bem fundo do
subconsciente do rapaz. Como Mal é novata no ramo de invadir sonhos, Cobb
precisa explicar como tudo funciona para ela. E ao fazê-la conhecedora de tais
informações, vitais para o sucesso do projeto, vamos sendo conduzidos pelo
mesmo caminho de Mal. Ao final da explicação de Cobb já estamos convencidos de
que é possível realizar tal proeza e “compramos o peixe” de Nolan sem reclamar.
A exposição foi feita e ficamos satisfeitos com a forma como tudo foi feito.
Um erro comum dos
roteiristas de primeira viagem, nesse ponto, é querer explicar demais. Então,
imaginando que o espectador não irá entender, ele exagera na dose, e o faz
frequentemente por meio de informação duplicada. Se você tiver como mostrar a
sua informação, não precisa colocar ninguém explicando aquilo que está
sendo mostrado. Seria como se, em A
Origem, logo após tudo começar a explodir dentro do sonho de Mal, quando
eles estão sentados em um café, Cobb dissesse: “Está vendo? Tudo está
explodindo”. Ele não precisa dizer isso porque estamos vendo as coisas
explodindo por todos os lados. Ao invés disso, Cobb apenas complementa aquela
informação, explicando a Mal porque tudo aquilo está acontecendo.
Alguns professores de
roteiro afirmam que a melhor forma de colocar uma exposição em seu roteiro é
por meio de uma cena cômica ou um conflito. Eu acredito que você pode usar o
artifício que quiser, desde que não deixe a cena maçante e nem subestime a
inteligência do espectador.
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