segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O PERSONAGEM DE FICÇÃO


PERSONAGEM

Tão difícil quanto criar diálogos consistentes, é criar personagens verossímeis. No entanto, criar bons personagens para conduzir sua história é parte fundamental no seu processo de escrita do roteiro. Boas histórias sempre têm personagens marcantes. É por meio dos personagens que você transmitirá a mensagem do seu roteiro. Você consegue imaginar algum filme de ficção sem ao menos um personagem? Eu já vi filmes em que insetos falam, computadores ganham emoções humanas, humanos se tornam seres bestiais, fantasmas se comunicam com os vivos, mortos voltam à vida e até mesmo já vi Deus e o diabo nas telas do cinema. No entanto, não me lembro de nenhuma história contada sem ter ao menos um personagem que a conduz. Personagem é essencial para o drama. Por isso, você precisa criar personagens no mínimo convincentes para conduzir suas histórias.
Para fazer um dos maiores filmes da história do cinema, Orson Wells criou um personagem enigmático, poderoso e fascinante e o chamou de Cidadão Kane, o magnata das comunicações. Você certamente se lembrará do personagem principal de Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989), não apenas porque foi interpretado por um ator do calibre de Robin Williams, mas porque o professor John Keating é uma figura marcante, com uma personalidade única e ações que fazem dessa história algo digno de ser lembrado.
Para construir um personagem marcante você precisa ir muito além do clássico nome, idade e profissão. É preciso pensar na psicologia do personagem, ir fundo em sua alma. Ir muito além do maniqueísmo do bem e do mal das peças teatrais estudantis. É preciso lembrar que um ser humano de verdade possui virtudes e defeitos, e que ninguém é totalmente bom, ou totalmente mau.
O filme Cidade de Deus (2002), de José Padilha, é um bom exemplo de personagens emblemáticos e bem construídos. Zé Pequeno (Leandro Firmino) é a maldade em pessoa. Mas, mesmo para um bandido do calibre de Zé Pequeno, há momentos no filme em que ele mostra que é um ser humano, como quando Buscapé (Alexandre Rodrigues) morre. Zé Pequeno realmente gostava de Buscapé e se importava com ele, mesmo sendo um ser humano cruel e sanguinário. Usando o mesmo filme como exemplo, encontramos um sujeito que parece ser “a bondade em pessoa”. É Mané Galinha (Seu Jorge), um sujeito simples e trabalhador, mas que, para vingar tudo que Zé Pequeno lhe infringiu (humilhação pública, estupro da namorada e morte do irmão), acaba se tornando também um bandido perigoso, capaz de matar sem a menor piedade. São as várias faces de um mesmo ser humano que, dependendo da situação, é capaz de tudo. Não nos esqueçamos que somos animais e, quando acuados, agimos por instinto.
Os psicopatas são a única exceção nesse tipo de construção de personalidade. Um psicopata não tem sentimentos, e como tal, é a maldade em pessoa. Ele não necessita de motivos para matar, roubar, manipular... Muitos psicopatas fazem isso por puro prazer. E se agem com bondade, é simplesmente pensando em seu próprio bem. Matar um ser humano simplesmente para construir um casaco de pele humana é algo que eles encaram com naturalidade (O Silêncio dos Inocentes). A série de TV Dexter é um ótimo laboratório para entender o complicado mundo particular de um psicopata.
No entanto, mesmo que o seu personagem seja um psicopata como o Dr. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), por exemplo, ele terá que ter uma personalidade muito bem solidificada. Você terá que basear a sua personalidade em um passado justificável para que um homem como ele tenha as atitudes que ele toma no filme. E isso não é nem um pouco fácil. E é por aí que você começará a construir a personalidade do seu personagem: pelo seu passado, pois, como diria Victor Hugo, o homem é fruto do seu meio. Tudo o que o seu personagem fará, terá que estar embasado em sua personalidade. Se não for assim, ele perde credibilidade e, consequentemente, sua história também.
Expliquemos melhor esse conceito. Digamos que o seu personagem é um político honesto e que ele tem por princípio jamais aceitar propina ou favorecimento pessoal. Caso nos deparemos com uma cena em que o seu político honesto aceite receber um favor pessoal em troca de votação para aprovação de um projeto de lei polêmico, isso nos faria perder a credibilidade que havíamos depositado nele. Você até pode colocar o seu político honesto na situação acima descrita, mas teria que justificar muito bem a atitude dele. Por exemplo, no caso de ele estar sendo ameaçado, seu filho ou esposa estarem em condição de coação ou seqüestro etc. Ou outra situação que justifique ele estar indo contra os seus princípios, como é o caso do personagem Mané Galinha, do filme Cidade de Deus. Quando uma situação assim é bem escrita, gera até um conflito interessante.
No filme Tempo Esgotado (Nick of Time, 1995), um homem simples (Johnny Depp) é escolhido aleatoriamente para matar a governadora da Califórnia, Eleonor Grant (Marsha Mason), que tenta a reeleição. Caso a governadora não esteja morta dentro de uma hora e vinte e três minutos, eles matarão sua filha de seis anos de idade (Courtney Chase). Por mais pressionado que Gene Watson (Depp) esteja, ele não consegue realizar a ação, pois isso vai claramente contra seus princípios,  e ele arrisca perder a sua filha ao ter que se tornar um assassino. O que torna o filme interessante é a possibilidade de nos colocarmos no lugar de Watson, sendo obrigados a matar uma pessoa inocente para salvar a vida de outra inocente, a sua filha. Um personagem simplista, ou sem caráter, simplesmente executaria a ação sem questionar muito os “porquês”. Mas, complexa como é a personalidade humana, vários questionamentos são feitos ao longo das quase duas horas do filme.

Um comentário:

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